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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Aprendizagem e Arteterapia


ARTETERAPIA E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Arteterapia como recurso no atendimento às crianças, 
adolescentes e adultos com dificuldades de aprendizagem.

* Maria Apparecida Ribeiro Geiger

     Atender pessoas com dificuldades de aprendizagem requer que o psicopedagogo tenha uma sólida formação teórica, um espaço psicopedagógico de trabalho terapêutico, que permita a leitura do não dito que se manifesta como sintoma.
     É através do olhar e da escuta psicopedagógica, que o profissional identificará as armadilhas que estão presentes na singularidade do sujeito, na sua relação com o conhecimento.
     Caberá ao psicopedagogo ajudar o paciente derrubar barreiras, reconstruir estruturas, ressignificar seus conflitos, possibilitar um novo começo de um ser autônomo, construidor da sua própria historia.
     Para tal complexidade de trabalho o psicopedagogo deverá formar-se continuamente, não perdendo de vista que a Psicopedagogia atua numa área cujo potencial de análise e intervenção é amplo e por se tratar de um espaço transdiciplinar poderá mediar as diversas áreas afins com complementaridade.
     O campo da psicopedagogia deverá ser visto dentro do circuito razão, afeto; objetividade, subjetividade; diversidade cultural, pluralidade dos indivíduos.
     Para o psicopedagogo todo paciente é um desafio a ser enfrentado, tentar esclarecer os múltiplos aspectos do fenômeno da não aprendizagem,aprender as relações transitórias e mutantes do mesmo, levar em conta a linguagem verbal e não-verbal, escolher o recurso a ser utilizado, não é tarefa fácil.
     Na qualidade de terapeuta da aprendizagem, na minha prática clínica faço uso de diferentes expressões artísticas como pintura, escultura, dança música, poesia.   Tendo como referência a arte, no sentido mais restrito do termo, como manifestação do ser humano, caminho de autoconhecimento, de comunhão com o mundo e de expressão do mundo, optei pelo potencial terapêutico da Arteterapia, acreditando que as manifestações artísticas mobilizam, facilitam e promovem processos de expansão de consciência e transformações interiores.
     A prática da Arteterapia me possibilitou entender, que os pacientes mostram-se menos resistentes, e gradualmente as manifestações vão orientando a terapia na direção dos problemas, que originaram a indicação inicial.
     As vivências das manifestações artísticas facilitam a decifração do mundo interno e as fronteiras entre o mundo interno-imaginário e o mundo concreto são mais facilmente transponíveis.
     Nestas vivências, a energia psíquica através da objetivação de imagens simbólicas, promove a transferência de energia de um nível para o outro.
     Através da cuidadosa escolha de materiais expressivos e das estratégias que favorecem transformações não perco de vista, que os processos de criação são singulares e regidos por princípios universais e arquetípicos.
     Isto faz com que eu consiga entender melhor o que se passa com os pacientes, resgatando e ampliando seus núcleos saudáveis.
     Para isto se efetivar, o entendimento do que se passa com eles onde está depositado o seu “não aprender”, amplio o contato com o seu mundo sócio-cultural.
     No encontro com suas famílias tomo o cuidado de entender a linguagem e os símbolos que utilizam, crio um espaço arteterapeutico facilitador do diálogo,ofereço a eles tarefas criativas para que elaborem experiências
colaborativamente.
     Observo que desta forma ocorre uma expansão do processo de falar sobre o “não dito” abre-se a narrativa e o diálogo terapêutico se realiza.
     As transformações no núcleo familiar decorrem do movimento que se instala durante o processo de contato com as vivências artísticas e criativas.
     Os conteúdos do inconsciente de cada indivíduo emergem e se integram ao próprio eu e, todo o núcleo familiar mergulhado no próprio  inconsciente retiram dele a matéria prima para o auto conhecimento e do conhecimento das relações mútuas.
     Este movimento propicia a conexão, a consciência, não só de conflitos, mas das riquezas e possibilidades que sempre estão presentes numa relação familiar.
     A título de ilustração do que foi escrito acima faço um recorte de um caso clínico. Trata-se de um paciente adolescente, de 15 anos de idade, filho adotivo, de pais separados, cuja queixa trazida pelos pais foi: “ parece um adolescente perdido, é inteligente,mas não vai bem na escola, tira notas baixas, será que ele tem algum problema na cabeça que a gente não saiba?”
     Durante o diagnóstico psicopedagógico Carlos (nome fictício) insistia em desenhar uma figura masculina cujas mãos se assemelhavam a pés. Ora a figura era sua representação, ora do seu pai.
     No encontro da família num determinado momento do tratamento, diante de inúmeros materiais expostos na sala, o pai optou por fazerem juntos uma maquete da danceteria que o filho freqüentava, todos concordaram.
     Na construção da maquete pai e mãe puderam elaborar alguns dos conflitos existentes entre eles; a mãe dizia que o pai nunca estava presente e não sabia nada sobre o filho; pai e filho mostraram à mãe onde ficava o palco, a entrada da danceteria e o lugar seguro que ele gostava de ficar dançar ou ficar olhando as meninas.
     O pai várias vezes queria usar um material e imediatamente a mãe discordava e chamava o filho a concordar com ela. Este estava literalmente sem saber onde colocar “seus pés e suas mãos” não sabia o que decidir.Se concordava com o tipo de material que o pai propunha, a mãe olhava- o com represália; se concordava com o material que a mãe indicava era o olhar de reprovação do pai que recebia;  o impacto permanecia por muito tempo e algumas vezes intervi tornando a situação mais confortável para Carlos.  
     Terminada a elaboração artística coletiva, todos ficaram satisfeitos com o resultado da obra. Abrindo o diálogo puderam falar o que sentiram e numa situação de ativação do inconsciente o paciente pode dizer aos pais “Eu não sei mais o que fazer eu quero ir a pé à danceteria e você não me deixa, dirigindo-se a mãe; para o pai disse:- eu não gosto quando você entra e fica lá conversando com as meninas.
      Carlos pode dizer o que sentia e foi escutado, certamente seus pais também tiraram desta vivência artística material para a construção do seu autoconhecimento e as relações familiares transformaram-se.
     Depois numa outra situação de atendimento clínico ele pode reelaborar as figuras masculinas já com os pés e as mãos nos seus devidos lugares.
     Enfim estas vivências artísticas tanto individuais como coletivas tem um poder enorme de intensificar a elaboração simbólica, ativando a raiz arquetípica dos símbolos, mobilizando dimensões pouco acessíveis as palavras.

*Pedagoga (FEUSP)
Psicopedagoga Clínica (PUCSP)

3 comentários:

  1. Olá querida,como vai?Excelente texto que vc escolheu para partilhar conosco,muito útil e interessante.Bjos e até breve!

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  2. Olá sou professora do Município do Rio de Janeiro, mas sou psicopedagoga e e estou cursando pós de Arte em Educação e Saúde, por isso me interessei pelo seu blog. Gostei muito Parabéns sou do grupo Educadores Multiplicadores, aguardo uma visitinha.
    Blog ALFABETIZAÇÃO CRIATIVA http://criandoealfabetizando.blogspot.com

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  3. Sou professora da Rede Municipal do Rio de Janeiro, mas também sou psicopedagoga, por isso me interessei pelo seu blog. Gostei você está de parabéns. Sou do grupo Educadores Multiplicadores e aguardo uma visitinha no meu blog ALFABETIZAÇÃO CRIAITVA http://criandoealfabetizando.blogspot.com

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