ARTETERAPIA E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Arteterapia como recurso no atendimento às crianças,
adolescentes e adultos com dificuldades de aprendizagem.
adolescentes e adultos com dificuldades de aprendizagem.
* Maria Apparecida Ribeiro Geiger
Atender pessoas com dificuldades de aprendizagem requer que o psicopedagogo tenha uma sólida formação teórica, um espaço psicopedagógico de trabalho terapêutico, que permita a leitura do não dito que se manifesta como sintoma.
É através do olhar e da escuta psicopedagógica, que o profissional identificará as armadilhas que estão presentes na singularidade do sujeito, na sua relação com o conhecimento.
Caberá ao psicopedagogo ajudar o paciente derrubar barreiras, reconstruir estruturas, ressignificar seus conflitos, possibilitar um novo começo de um ser autônomo, construidor da sua própria historia.
Para tal complexidade de trabalho o psicopedagogo deverá formar-se continuamente, não perdendo de vista que a Psicopedagogia atua numa área cujo potencial de análise e intervenção é amplo e por se tratar de um espaço transdiciplinar poderá mediar as diversas áreas afins com complementaridade.
O campo da psicopedagogia deverá ser visto dentro do circuito razão, afeto; objetividade, subjetividade; diversidade cultural, pluralidade dos indivíduos.
Para o psicopedagogo todo paciente é um desafio a ser enfrentado, tentar esclarecer os múltiplos aspectos do fenômeno da não aprendizagem,aprender as relações transitórias e mutantes do mesmo, levar em conta a linguagem verbal e não-verbal, escolher o recurso a ser utilizado, não é tarefa fácil.
Na qualidade de terapeuta da aprendizagem, na minha prática clínica faço uso de diferentes expressões artísticas como pintura, escultura, dança música, poesia. Tendo como referência a arte, no sentido mais restrito do termo, como manifestação do ser humano, caminho de autoconhecimento, de comunhão com o mundo e de expressão do mundo, optei pelo potencial terapêutico da Arteterapia, acreditando que as manifestações artísticas mobilizam, facilitam e promovem processos de expansão de consciência e transformações interiores.
A prática da Arteterapia me possibilitou entender, que os pacientes mostram-se menos resistentes, e gradualmente as manifestações vão orientando a terapia na direção dos problemas, que originaram a indicação inicial.
As vivências das manifestações artísticas facilitam a decifração do mundo interno e as fronteiras entre o mundo interno-imaginário e o mundo concreto são mais facilmente transponíveis.
Nestas vivências, a energia psíquica através da objetivação de imagens simbólicas, promove a transferência de energia de um nível para o outro.
Através da cuidadosa escolha de materiais expressivos e das estratégias que favorecem transformações não perco de vista, que os processos de criação são singulares e regidos por princípios universais e arquetípicos.
Isto faz com que eu consiga entender melhor o que se passa com os pacientes, resgatando e ampliando seus núcleos saudáveis.
Para isto se efetivar, o entendimento do que se passa com eles onde está depositado o seu “não aprender”, amplio o contato com o seu mundo sócio-cultural.
No encontro com suas famílias tomo o cuidado de entender a linguagem e os símbolos que utilizam, crio um espaço arteterapeutico facilitador do diálogo,ofereço a eles tarefas criativas para que elaborem experiências
colaborativamente.
Observo que desta forma ocorre uma expansão do processo de falar sobre o “não dito” abre-se a narrativa e o diálogo terapêutico se realiza.
As transformações no núcleo familiar decorrem do movimento que se instala durante o processo de contato com as vivências artísticas e criativas.
Os conteúdos do inconsciente de cada indivíduo emergem e se integram ao próprio eu e, todo o núcleo familiar mergulhado no próprio inconsciente retiram dele a matéria prima para o auto conhecimento e do conhecimento das relações mútuas.
Este movimento propicia a conexão, a consciência, não só de conflitos, mas das riquezas e possibilidades que sempre estão presentes numa relação familiar.
A título de ilustração do que foi escrito acima faço um recorte de um caso clínico. Trata-se de um paciente adolescente, de 15 anos de idade, filho adotivo, de pais separados, cuja queixa trazida pelos pais foi: “ parece um adolescente perdido, é inteligente,mas não vai bem na escola, tira notas baixas, será que ele tem algum problema na cabeça que a gente não saiba?”
Durante o diagnóstico psicopedagógico Carlos (nome fictício) insistia em desenhar uma figura masculina cujas mãos se assemelhavam a pés. Ora a figura era sua representação, ora do seu pai.
No encontro da família num determinado momento do tratamento, diante de inúmeros materiais expostos na sala, o pai optou por fazerem juntos uma maquete da danceteria que o filho freqüentava, todos concordaram.
Na construção da maquete pai e mãe puderam elaborar alguns dos conflitos existentes entre eles; a mãe dizia que o pai nunca estava presente e não sabia nada sobre o filho; pai e filho mostraram à mãe onde ficava o palco, a entrada da danceteria e o lugar seguro que ele gostava de ficar dançar ou ficar olhando as meninas.
O pai várias vezes queria usar um material e imediatamente a mãe discordava e chamava o filho a concordar com ela. Este estava literalmente sem saber onde colocar “seus pés e suas mãos” não sabia o que decidir.Se concordava com o tipo de material que o pai propunha, a mãe olhava- o com represália; se concordava com o material que a mãe indicava era o olhar de reprovação do pai que recebia; o impacto permanecia por muito tempo e algumas vezes intervi tornando a situação mais confortável para Carlos.
Terminada a elaboração artística coletiva, todos ficaram satisfeitos com o resultado da obra. Abrindo o diálogo puderam falar o que sentiram e numa situação de ativação do inconsciente o paciente pode dizer aos pais “Eu não sei mais o que fazer eu quero ir a pé à danceteria e você não me deixa, dirigindo-se a mãe; para o pai disse:- eu não gosto quando você entra e fica lá conversando com as meninas.
Carlos pode dizer o que sentia e foi escutado, certamente seus pais também tiraram desta vivência artística material para a construção do seu autoconhecimento e as relações familiares transformaram-se.
Depois numa outra situação de atendimento clínico ele pode reelaborar as figuras masculinas já com os pés e as mãos nos seus devidos lugares.
Enfim estas vivências artísticas tanto individuais como coletivas tem um poder enorme de intensificar a elaboração simbólica, ativando a raiz arquetípica dos símbolos, mobilizando dimensões pouco acessíveis as palavras.
*Pedagoga (FEUSP)
Psicopedagoga Clínica (PUCSP)
Olá querida,como vai?Excelente texto que vc escolheu para partilhar conosco,muito útil e interessante.Bjos e até breve!
ResponderExcluirOlá sou professora do Município do Rio de Janeiro, mas sou psicopedagoga e e estou cursando pós de Arte em Educação e Saúde, por isso me interessei pelo seu blog. Gostei muito Parabéns sou do grupo Educadores Multiplicadores, aguardo uma visitinha.
ResponderExcluirBlog ALFABETIZAÇÃO CRIATIVA http://criandoealfabetizando.blogspot.com
Sou professora da Rede Municipal do Rio de Janeiro, mas também sou psicopedagoga, por isso me interessei pelo seu blog. Gostei você está de parabéns. Sou do grupo Educadores Multiplicadores e aguardo uma visitinha no meu blog ALFABETIZAÇÃO CRIAITVA http://criandoealfabetizando.blogspot.com
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