Encontrei por indicação de uma professora de Arte este artigo muito bom para nossa reflexão e análise de nossa prática com a Arte na ESCOLA e o destaque para a Psicopedagogia na formação dos Professores.
Vale a pena conferir e tirar as suas próprias conclusões.Bom proveito!
Publicado em 24/07/2013
“Um bom professor de Artes cria espaços e cenários para o estudante se surpreender e surpreender o seu professor com suas criações” - Saturnino de La Torre
O catedrático de Didática e Inovação Educacional da Universidade de Barcelona e criador da Rede Internacional de Escolas Criativas diz que instruir não é educar uma criança.
1 – Como conquistar uma educação de qualidade?
Uma sociedade que não valoriza a educação e o professor perde a consciência do futuro. O futuro de um país não está na tecnologia, nem em preparar excelentes especialistas, mas sim em elevar o nível cultural, artístico e ético dos seus cidadãos. Essa é a chave de uma cidadania cuja formação se reverterá para toda a sociedade. Mas a qualidade transforma-se muitas vezes em um slogan de um discurso administrativo e político, longe da prática docente, do reconhecimento social do professor, do investimento na formação e na promoção de experiências inovadoras e criativas. O melhor exemplo de qualidade humana é encontrado em escolas e instituições criativas. Em escolas que se propõem a tirar o melhor de cada aluno e desenvolver seu potencial. Delas sairão cidadãos e profissionais alegres e capazes de fazer avançar a sociedade nas mais diversas áreas. Uma sociedade plural precisa de engenheiros, advogados, médicos, administradores, mas também de artistas que são o fermento dos valores humanos, que se entregam à criação e desfrutam do seu trabalho, como ocorre com os bons professores.
2- De que forma a Arte pode ajudar a escola a ser mais atraente para os alunos?
As manifestações artísticas são, no geral, a expressão criativa por excelência. A arte é criação em todas as suas manifestações, uma vez que implica a sensibilidade e a complexidade das pessoas, intuição e imprevisibilidade no processo, manejo dos recursos e linguagens, com respeito ao ambiente e originalidade no resultado ou no produto. Neste sentido, criam-se ambientes propícios para estimular a criatividade visual, plástica, sonora, cênica,corporal e de qualquer outro tipo. A arte muda a percepção da pessoa e o mundo interior dela.
3 - Como formar um bom professor de Arte?
Um bom professor deve ter três tipos de competências básicas: didática para saber comunicar, atrair, impressionar e motivar a autoaprendizagem; psicopedagogia para saber adaptar o conteúdo à idade e maturidade dos alunos; e domínio dos conteúdos curriculares para saber recriá-los,transformá-los e enriquecê-los com as experiências de vida, que são as principais fontes de aprendizagem. As duas primeiras competências são comuns a qualquer professor. Um bom professor precisa ainda ter criatividade para surpreender, estimular e despertar no aluno a crença de que ele pode aprender por si mesmo. Um professor de Arte tem que dominar o código do seu campo de forma teórica e prática. Se ensina pintura, tem que saber pintar; se música, compor; se artes plásticas, modelar ou esculpir; se artes cênicas, desempenhar papéis diferentes. Um bom professor de Artes cria espaços e cenários para o estudante se surpreender e surpreender o seu professor com suas criações. Quando ele conseguir isso, terá deixado uma marca criativa em seus alunos.
4 – De que maneira a família e a comunidade podem trabalhar juntos para melhorar o aprendizado dos estudantes?
"Para educar uma criança, é preciso toda a tribo", diz J. A. Marina (escritor e filósofo espanhol), citando um provérbio africano em seu livro "A Educação de Talentos". A família, a escola, o bairro, a comunidade, a cidade inteira se convertem em cenários educativos. Uma coisa é instruir, transmitir conhecimentos, outra é formar e educar uma criança, um adolescente ou um jovem. Para instruir basta um professor medíocre, um "ensinante" ou um trabalhador do ensino, como alguns sindicalistas preferem chamar. O professor não é um trabalhador do ensino, nem tampouco um médico é um trabalhador da saúde. São profissões que vão além das horas estabelecidas pelo relógio, como absurdamente pretendem algumas administrações.Pretender "medir" a hora trabalhada do professor é anular a sua consciência e sua missão educativa e torná-lo um "ensinante". A função educativa e formadora requerem a colaboração da família, das instituições municipais, da comunidade porque formar valores não se faz mediante lições escolares, mas de lições de vida.
Como trabalhar juntos?
Convertendo a escola em espaço a serviço da comunidade, dos vizinhos, alunos, ONGs, atividades culturais e esportivas, celebrações de festas. A interação é a melhor estratégia didática para a educação sistêmica e integral. Como tal, a escola ou outro espaço da comunidade, tornam-se cenários de formação.
5 - Como será a escola do futuro?
Tenho um duplo prognóstico sobre a escola do futuro. Um, pessimista, em que ela seguirá mantendo a mesma estrutura curricular e se apegando a modelos do passado, e outro, de um movimento com escolas inovadoras e criativas, adaptadas aos novos tempos. As políticas do governo seguem escravas de diretrizes e normas internacionais, priorizando as disciplinas tradicionais, como matemática, ciências, línguas e leitura e subestimando as disciplinas baseadas no âmbito artístico e expressivo, mais estimuladoras da criatividade. Também seguirá prevalecendo o discurso do desenvolvimento acadêmico baseado na internacionalização e padronização dos resultados, na homogeneização, nos padrões e medidas fornecidas por agências como o Pisa (exame internacional de avalição da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Serão escolas da segunda onda da industrialização que preparam para a competitividade. Em outra vertente, encontramos escolas e instituições educativas que adotam o discurso do desenvolvimento humano, que preparam competências para a vida e despertam o potencial de seus alunos e a ampliação da consciência tanto pessoal como social, ambiental e planetária. Escolas preocupadas com a sustentabilidade, como a escola municipal Visconde de Taunay, em Blumenau, que recebeu recentemente o reconhecimento da Rede Internacional de Escolas Criativas, com sede em Barcelona, na Espanha. Cada vez teremos mais escolas como esta e as que estão trabalhando em outras cidades de Santa Catarina, como Orleans, Vargem Bonita, ou outros Estados, como São Paulo, Fortaleza, Goiás. Elas compõem um importante movimento para a mudança que queremos na educação.
Saturnino de la Torre nasceu em Valladolid, Espanha. Catedrático da Universidade de Barcelona. Grande parte de suas obras aborda como tema a Inovação Didática e Criatividade, tema no qual vem trabalhando desde 1973, dando origem a múltiplas publicações, seminários, assessorias,conferências em Congressos Nacionais e Internacionais. Atualmente está pesquisando sobre estratégias didáticas inovadoras e criativas, Transdisciplinaridade e ecoformação, Cenários e redes, Criatividade paradoxal e quântica. Diretor do projeto “Adversidade esconde um tesouro”.
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