Sendo assim, os erros ortográficos que as crianças cometem ao escrever ganham um novo sentido. Os erros ortográficos das crianças expressam o já sabem sobre o sistema ortográfico e como o que ainda não sabem. Dessa forma, os erros passam a ser uma importante fonte de conhecimento sobre o processo de aprendizado da linguagem escrita pela criança.
a) Troca entre letras com sons foneticamente semelhantes – a criança troca letras que possuem alguma semelhança fonética. As trocas mais comuns são os fonemas sonoros (/b/,/d/,/g/,/v/) pelos surdos (/p/,/t/,/k/,/f/). Exs: chocolade (chocolate), era uma fez (era uma vez), laco (lago).
b) Dificuldade no uso de marcadores de nasalização – a criança pode omitir, trocar ou usar de modo não-convencional os marcadores da nasalização. Exs: criaças (crianças), bamho (banho), demte (dente).
c) Dificuldade com as regularidades contextuais – a criança ao escrever não leva em consideração o contexto, ou seja, a posição da letra na palavra, para escolher a letra ou dígrafo que representem o fonema que quer escrever. Exs: coragosa (corajosa), pasear (passear), serreias (sereias).
d) Dificuldade na escrita das regularidades morfossintáticas – a criança erra por não levar em consideração os aspectos morfossintáticos da língua que regem a grafia da palavra. Exs: acharão (acharam), falace (falasse).
e) Dificuldade na marcação de acentos gráficos – a criança omite o acento gráfico ou acentua a palavra de forma indevida. Exs: nao (não), la (lá), historia (história).
f) Dificuldade na escrita de sílabas complexas – a criança encontra dificuldade na escrita de mais sílabas complexas, ou seja, daquelas que fogem do padrão consoante-vogal (CV). Esta dificuldade pode aumentar no caso de encontros consonantais, dígrafos ou sílabas travadas. Exs: sempe (sempre), bincando (brincando), melor (melhor).
g) Erros de Segmentação – A criança pode agrupar as palavras indevidamente (hipossegmentação) ou desmembrar as palavras em dois ou mais segmentos (hipersegmentação). Exs: sichamava (se chamava), em controu (encontrou), nafloresta (na floresta).
h) Modificações na palavra – a criança omite, adiciona ou desloca letras, dificultando a compreensão da palavra. Exs: espe (sempre), emtarro (entraram).
i) Erros por referência à fala – nas hipóteses iniciais da criança acerca da relação entre a língua falada e a língua escrita, as relações entre as letras e fonemas são concebidas de maneira biunívoca. Sendo assim, a criança erra ao tentar reproduzir em sua escrita a palavra da mesma forma como esta é pronunciada, fazendo uso da hipótese da regularidade de natureza biunívoca entre fonemas e letras. Ex: veis (vez), mininas (meninas), ispanto (espanto).
j) Dificuldade na escrita das irregularidades da língua - a motivação para a escrita destas palavras está ligada à sua origem, envolvendo, portanto alguma forma de memorização. A criança erra por optar por uma letra que não é a forma convencional de grafar a palavra, embora seja uma escolha possível entre as representações disponíveis na língua para o fonema que pretende grafar. Exs: ora (hora), comesou (começou).
l) Erros por hipercorreção – ao compreender cada vez mais a distinção entre língua falada e língua escrita bem como abandona o ideal de uma regularidade absoluta na correspondência entre letra e som, a criança começa a se corrigir. Neste processo, a criança pode fazer generalizações indevidas para contextos onde certa regra não deveria ser empregada. Exs: resistio (resistiu), paes (pais), does (dois).
m) Troca de letras por semelhanças na grafia – a criança troca uma letra por outra que possui semelhança na grafia. Exs: mome (nome), geriam (queria).
n) Omissão de letra – a criança omite uma letra, sem motivo aparente. Exs: dis (disse), digitalido (digitalizado).
Ainda existem várias dúvidas a respeito de como tratar o ensino e a aprendizagem da ortografia da Língua Portuguesa. Porém, é importante ressaltar que o ensino da ortografia não deve estar dissociado da leitura e produção de textos. Isto porque ao ler e ao escrever seus textos, a criança estará utilizando de forma significativa a ortografia e compreendendo claramente uma das principais funções da ortografia: facilitar a comunicação por meio da normatização da grafia. Este ensino também precisa ser sistematizado de acordo com os objetivos que se deseja alcançar com determinado grupo de alunos. Portanto, um maior conhecimento sobre como se estrutura o sistema ortográfico da Língua Portuguesa se faz necessário, a fim de entender melhor os progressos e dificuldades que as crianças enfrentam nessa fase.
Mestre em Psicologia – UFRJ
Referências
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Correa, J. (2001). A aquisição do sistema de escrita por crianças. Em J. Correa, A. Spinillo e S. Leitão. Desenvolvimento da Linguagem: escrita e textualidade. 19 – 70. Rio de Janeiro: Nau/FAPERJ.
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Lemle, M. (2003). Guia teórico do alfabetizador. São Paulo: Ática.
Meireles, E.S. (2004). A tarefa de erro intencional prediz a competência ortográfica da criança? Investigações acerca de aspectos morfossintáticos e contextuais da Língua Portuguesa. Dissertação não-publicada. Rio de Janeiro: UFRJ.
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Morais, A. G. (2003). Ortografia: ensinar e aprender. São Paulo: Ática. Souza, A. C. F. C. (2006). Análise da escrita ortográfica de crianças em diferentes contextos de produção de texto. Dissertação não-publicada. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Querida Rosangela, parabéns pelo texto.
ResponderExcluirBeijos ótimo sábado e excelente domingo
Olá Rosângela!Parabéns pela postasgem.Um lindo domingo a você.
ResponderExcluirOlá Multiplicadora Rosângela, obrigado por fazer parte da nossa Família de Educadores.
ResponderExcluirEstamos encantados com as informações deste blog maravilhoso!
Multiplicadora será um enorme prazer publicar (se quiser) também este cantinho, já estar tudo pronto; é seguir os passos já conhecidos e pronto, estará publicado!
Fiquemos na Paz de Deus e até breve.